Em vésperas de uma conferência de aniversário em nossa igreja local, parei para pensar no tema que escolhemos: Edificando a Casa de Deus, tema baseado nas palavras de I Pedro 2:5:
também vós mesmos, como pedras que vivem,
sois edificados casa espiritual
para serdes sacerdócio santo...
Aqui é declarado que somos pedras ou tijolos vivos no prédio que é o Corpo de Cristo. O que une essas pedras/tijolos? Cimento. Os tijolos não se mantêm sozinhos. O cimento transformado em argamassa está lá para uni-los. O que seria o unificador de tijolos-cristãos que os torna edifício-Corpo de Cristo? O amor!
Se ser cristão é ser discípulo de Cristo, então o ser cristão é marcado entre outras coisas pelo amar aos irmãos:
Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos:
se tiverdes amor uns aos outros (Jo 13:35)
Se queremos manter esses tijolos unidos é preciso amarmos. E amar envolve duas práticas. A primeira é mais fácil, porque parece heroica, piedosa e espiritual:
Nisto conhecemos o amor: que Cristo deu a sua vida por nós;
e devemos dar nossa vida pelos irmãos. Ora aquele que possuir
recursos deste mundo, e vir a seu irmão padecer necessidade,
e fechar-lhe o seu coração, como pode permanecer nele
o amor de Deus? (I Jo 3:16, 17)
É isso mesmo! Não é heroico, e digamos fácil, pegar do meu prato e compartilhar com meu próximo? Não é espiritual me descalçar e dar meus sapatos para um estranho? Não é piedoso agir assim ou assado? Por isso, chamei essa atitude de fácil (e não desprezível!), porque temos um estereótipo em nossa imaginação cristã de amar aos irmãos.
A segunda prática é vista como insensível, severa e humana. Vou chamar de “o lado negativo” (por ser mal visto, não porque é errado!). É chamar a atenção do irmão quando ele estiver errado. É confrontá-lo (nós cearenses chamaríamos de “peitá-lo”) quando você o vir fazendo isso e ele insistir em agir errado.
Quero basear essa opinião em alguns textos como Hebreus 12:5b-8: “Filho meu, não menospreze a correção que vem do Senhor, nem desmaies quando por ele és reprovado; porque o Senhor corrige a quem ama e açoita a todo filho a quem recebe. É para disciplina que perseverais (Deus vos trata como filhos); pois que filho há que o pai não corrige? Mas se estás sem correção, de que todos se têm tornado participantes, logo, sois bastardos e não filhos”.
Se o tratamento de um verdadeiro Pai para os verdadeiros filhos inclui a correção (o amor no sentido negativo de que venho falando), para nosso amor aos irmãos ser completo é preciso também inclui essa face indesejada por muitos de nós (tememos ser vistos como politicamente incorretos ou, vulgarmente, chatos mesmo!).
Para os que pensarem em dizer: “Mas corrigir cabe apenas a Deus fazer”, veja os seguintes textos que dispensam qualquer comentário:
Leais são as feridas feitas pelo que ama (Pv 27:6)
Como o ferro com o ferro se afia,
assim o homem ao seu amigo (Pv 27:17)
Se teu irmão pecar contra ti, vai argui-lo entre ti e ele só.
Se ele te ouvir, ganhaste a teu irmão (Mt 18:15)
E não sejais cúmplices nas obras infrutíferas das trevas;
antes, porém, reprovai-as (Ef 5:11)
E aí? Vamos usar o cimento-amor para unir os tijolos-cristãos? Quer a massa saia suave, quer a massa saia áspera, as pedras-tijolos só estarão firmes se a usarmos.
E por último, o maravilhoso disso é que apesar de existir um único fundamento na construção da Igreja, Esposa e Corpo de Cristo, ou seja, o próprio Jesus (I Co 3:11), há muitos construtores trabalhando na edificação da casa espiritual, que somos nós:
outro edifica... cada um veja como edifica... se o que alguém edifica...
a obra de alguém que sobre o fundamento edificou... (I Co 3:10, 12, 14)
Então, somos pedras-tijolos, a argamassa é o amor e nós mesmos somos os construtores desse edifício de Deus, que somos nós (I Co 3:9). Que maravilha! Que bênção! Que cara terá essa obra no final? Os detalhes não sabemos, mas o resultado será louvor para aquele que nós chamou para a obra:
Por que estiverdes aqui desocupados o dia todo? Ide também vós para a vinha (Ops! Quer dizer para a construção!) – (Mt 20:6,7).